Shakespeare dizia que dentre as principais coisas, ele descobriu “que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.”

Hosni Mubarak esperava morrer levando consigo uma bela história como governante do seu povo. Acreditava que seria reverenciado eternamente. Fez de tudo para se manter no poder. Bastaram dezoito dias de protestos populares para que o sonho eterno virasse pó. Faltou-lhe a sensibilidade de parar na hora certa! 

Ronaldo Luís Nazário de Lima - o fenômeno – não foi nada fenomental na hora de anunciar a sua merecida aposentadoria. Rico e famoso quis coroar o final da carreira oferecendo à torcida corintiana a desejada, e nunca alcançada, Copa Libertadores da América. Falhou nas duas tentativas. Poderia ter parado antes, sem desculpas esfarrapadas e preservar-se entre os grandes heróis brasileiros. Não sei se foi por ganância, burrice ou esperteza inconfessável.

O PT de Itapira vive um momento delicado. Teve nesses vinte e tantos anos a liderança incontestável da vereadora Sonia Calidone. Nesse período, nenhuma decisão do partido saiu sem passar pela criação ou concentimento dela. Ela e seu marido Antonio Carlos dos Santos integraram a cúpula da campanha vitoriosa de Toninho Bellini nas duas eleições e operaram a mesa de controle do Novo Tempo. Antonio Carlos e Manoel Marques eram as cabeças pensantes e executivas dessa administração, cabe-lhes o bônus e o ônus.

Quando, recentemente, em artigo publicado neste espaço, teci críticas ao posicionamento político do Prefeito Toninho Bellini,  coube ao ex-secretário Santos a tarefa de escrever a resposta (fato não usual desse governo, diga-se), que depois de passar pelos cortes patrocinados por Manoel Marques e pela formatação redacional de um competente funcionário de carreira, culminou nas vexatórias assinaturas – sem leitura prévia do texto proposto - dos presidentes partidários da base aliada, entre eles, lá estava o presidente do PT de Itapira. Retorno intempestivamente ao episódio apenas para corroborar a tese da importancia de Antonio Carlos e Sonia no diretório local do Partido dos Trabalhadores.

Agora, Sonia e Antonio Carlos, romperam com o prefeito Bellini e desfilaram uma saraivada de notícias – muitas das quais sei e publico desde abril de 2005, época em que ninguém ousava levantar um dedo contra essa administração. Eu poderia dizer à vereadora e a seu marido que não foi por ignorância que eles se mantiveram, tanto tempo, no paço municipal. Poderia dizer, também, que agora é tarde para as lamúrias. Mas nada direi nesses termos, prefiro deixá-los, cada qual com a sua consciência e exaltar o princípio do “antes tarde do que nunca” em que a carga pecaminosa é proporcional ao tempo de uso e abuso.  Certos ou errados, ao tempo, o julgamento.

O PT de Itapira, vacilante constante entre Sonia e o poder, tem agora duas opções. Reconhecer as críticas e as decisões de Sonia e Antonio Carlos, abandonando o governo de Toninho Bellini e retomando o elo histórico do partido ou adotar, imediatamente, os  procedimentos internos para expulsar a vereadora e o ex-secretário do PT, sob pena de envolvimento direto em eventuais denúncias que poderão vir à tona, na sequencia desse cisma. Feito isso, participar mais desse governo para impedir a crescente deterioração popular. Quando se integra um governo deve-se cooperar com ele, corrigir-lhe os erros, oferecer-lhe idéias alternativas e direcionar as críticas apenas para as entranhas decisórias, jamais fora delas. Coisa que cabe ao cidadão comum. 

Ao deixar o barco à deriva, adotando medidas paliativas ou colocando-as em postergação, o PT de Itapira será rotulado como linha auxiliar de governo, agravado pela voracidade na manutenção de cargos e salários, cujo ideário político fora jogado na lata do lixo, faz tempo.