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Itapira, 28 de Mar�o de 2024
Artigo
06/11/2010 | DESABAFO

Eu sou do tempo que a minha cidade colocava em uma única e grande indústria todos os males do nosso subdesenvolvimento. E quase todo mundo acreditava. Sou do tempo que telefone à manivela nas casas era contado nos dedos e aparelhos de televisão em preto e branco, um ou dois a cada quarteirão.

Sou do tempo que quando a juventude olhava para o futuro, poucos enxergavam muito e muitos, quase nada. Tempo que assistia meus amigos, da infância, adolescência ou juventude, caminhando para o mercado de trabalho, não pelos dotes que carregavam, mas pelas parcas oportunidades oferecidas. Sem falar naqueles que deixavam a família e o convívio social, não por opção, para trabalhar e poder estudar noutros lugares.

Sou do tempo do “Brasil que vai pra frente”, da ditadura militar, da repressão, do cerceamento de liberdade, do rescaldo que resultou na alienação política das gerações seguintes, da esperança nascida com o fim da ditadura, das eleições diretas, de um novo país, daquele que todo mundo dizia que era do futuro. Um futuro que nunca chegava.

Depois que a campanha das diretas foi sufocada, veio Trancredo que derrotou Maluf no Colégio Eleitoral. Era a vitória do primeiro civil depois dos anos de chumbo. Tancredo morreu antes da posse. O povo chorou. Sarney assumiu. Veio a constituinte, tanto reivindicada. A constituição cidadã. E lá se ia mais de um terço de vida da minha geração...

Em 1989, na primeira eleição direta para Presidente da República do meu tempo de eleitor, dos dois principais candidatos, um fora construído pela mídia, bancado pela arca financeira e apoiado pelos setores mais conservadores da nossa sociedade. O outro nascido nordestino, pau de arara, operário forjado nas ações sindicalistas e apoiado pela maioria dos artistas, cientistas e intelectuais brasileiros. Caminhávamos para a vitória quando Collor acusou Lula de ter incentivado a ex-namorada para o aborto da filha Lurian e insinuou que o empresário Abílio Diniz tinha sido sequestrado por bandidos ligados ao PT e, finalmente, a edição polêmica do último debate, antes do segundo turno, transmitido no Jornal Nacional pela Rede Globo, principal artífice de Collor.  Entre tantas barbaridades, o povo acreditou, Lula perdeu e deu no que deu.

Saíram com Collor, como se ninguém o tivesse apoiado, votado ou financiado. Entrou Itamar. Naquelas alturas, os grupos conservadores amedrontados seguravam a onda. Deixavam rolar. Criticas em demasia poderiam jogar o país numa crise institucional. Era o medo do retorno dos militares. Itamar chamou para cuidar da economia um sociólogo, bem conceituado, mas que não entendia nada da pasta que ministraria. Mas FHC tinha bons amigos que entendiam do riscado. Edmar Bacha propôs a FHC o Plano Real que programava uma forte depreciação da moeda brasileira e não tinha o aval do FMI. Sem escolha, sem planos alternativos, fomos para o tudo ou nada. Graças a Deus, o plano foi um sucesso. FHC que era pouco conhecido entre os brasileiros, perdia nas intenções de votos das pesquisas iniciais para Lula, mas graças ao apadrinhamento do Plano Real foi eleito no primeiro turno.

A inflação era um problema sério. Galopante, fazia o Brasil patinar.  FHC estabilizou a economia, mas vacilou e não conduziu as questões econômicas e sociais com a seriedade que a situação exigia. Forjou a peso de ouro a reeleição. Encurtou o primeiro mandato em uma ano, pois sabia que teria problemas em pouco tempo. Interferiu demasiadamente na fixação do câmbio. Apesar dos quatro anos adicionais, não conseguiu colocar o país nos trilhos. Saiu pessimamente avaliado pelo povo brasileiro.

Em 2002, Lula era novamente o favorito. A rede de desmistificação entrou mais uma vez em cena. Achavam que o povo brasileiro continuava rezando a mesma cartilha. Era fantasia e calunia para todos os gostos. A atriz Regina Duarte foi contratada para interpretar o “tô com medo se Lula ganhar”. Conseguiram o segundo turno. Mas não levaram. Lula foi eleito e reeleito. Terminou aprovado com 84%. Elegeu sua sucessora, não sem antes assistir o mesmo filme pela sexta vez. PT, três, PSDB, dois. 

Perder ou ganhar uma eleição é mera decorrência. Depende só da maioria que vota no que acha melhor. Existem diferenças nas derrotas. Como disse Marina, pode-se perder, perdendo ou perder, ganhando, assim como se pode ganhar, ganhando e ganhar, perdendo. O PSDB sabe o que é ganhar e perder, perdendo. É uma pena.

Sou orgulhoso em ver o Brasil seguindo a caminho das grandes potências, cuidando antes dos setores menos favorecidos, e de ter participado um pouco desse processo.

Sinto o conforto de ver os meus filhos, os amigos dos meus filhos e os que não são amigos dos meus filhos tranquilos com um mercado dinâmico absorvente de mão de obra qualificada, cuja demanda mal consegue ser atendida, pelo volume que se apresenta.

Que bom ver o meu país do jeito que eu sempre esperei. Finalmente, na mão da sua história. Que felicidade viver esse momento. Meu pai, que pensava como eu... O tempo não permitiu.

Fonte: Nino Marcatti

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