Carregando aguarde...
Itapira, 25 de Abril de 2024
Artigo
20/11/2011 | Mais um novo aniversário da minha “véia”!

Nessa semana, a minha “véia” fez aniversário.  Cinquenta e poucos anos. Depois dos trinta - não sei se todas as mulheres são assim – ela passou a não considerar mais o “ano pós ano”. Conta apenas a década. Por enquanto, ela está nos anos cinquenta. Não me peça para quantificar esses tais “poucos anos”. Se o assim o fizesse, provavelmente, não estaria aqui na próxima semana. O texto, talvez, na minha lápide. Vai ser um “ufa” explicar o uso do termo “véia”, nada mais do que uma designação carinhosa, não usada por mim corriqueiramente. Faço o uso, aqui, por licença poética especial.

A “véia”, em questão, é a mulher que me acompanha a trinta e poucos anos, desde o namoro. É mãe dos meus três filhos. Casamos sob as bênçãos do Padre Veríssimo, na Igreja Matriz de Santo Antonio. Como ela nasceu na véspera do feriado comemorativo da Proclamação da República e nas proximidades da inauguração de Brasília, imagino que ela tenha incorporado, com todas as letras, o chamado “espírito republicano”. Digo isto, como uma qualidade. Pois ela adora parlamentar com Deus e todo mundo. Ela é do tipo que arruma assunto, sempre, para qualquer ocasião e lugar, o tempo todo.  Não tenho conhecimento de eventuais inimizades.

Aniversário serve pra gente fazer as contas. Percebi que ela desfruta da minha companhia por dois terços da vida dela. Logo – é concluso – que a maioria absoluta dos dias que ela já viveu, lá estava eu, ora sujando, não limpando e ouvindo xingação, ora fazendo brincadeiras de assustar com supostos bichos de papel ou qualquer outro material, ora fazendo graça das nossas desgraças (quando era possível) ou das nossas limitações ou das nossas diferenças. Mas, também, compartilhando o nascimento e o crescimento dos nossos filhos, os seus aprendizados, as suas dificuldades, as suas alegrias, as suas escolhas, as suas conquistas e as suas frustrações. Nem sentimos o tempo passar.

Nossa! Trinta e poucos anos com a mesma mulher? Talvez digam aqueles que não resistiram mais do que sete ou dez anos de casamento. Felizmente, não somos únicos. Acho que formamos uma boa dupla. Ela não é perfeita, mas eu também não sou. Sou tolerante, mas ela é muito mais. E posso dizer agora, sem qualquer conotação de cantada barata, que ela era mãe que eu queria para os meus filhos. Dedicada, atuante e presente, o tempo todo.

Eu e a minha mulher somos diferentes. Temos poucas coisas em comum. Talvez, os únicos objetivos que vislumbramos com unicidade é o de não levar a vida tão a sério; é o de temperar as minhas rigidezes na formação dos nossos filhos, com a tolerância exagerada dela; é o de priorizar o futuro dos nossos descendentes.

Envelhecer não é opção. Como envelhecer, sim.

Simone de Beauvoir em seu livro “A Força da Idade” diz: “Tinha outra preocupação: envelhecia. Nem minha saúde nem meu rosto se ressentiam; mas de vez em quando eu me queixava de que tudo perdia o viço em torno de mim; não sinto mais nada, gemia. Era ainda incapaz de ‘transes’ e, no entanto, tinha uma impressão de perda irreparável. (...) Em derredor, entretanto, a realidade pululava, mas cometi o erro de não procurar penetrá-la; encarava-a dentro de esquema e mitos que se tinham mais ou menos gasto; o pitoresco, por exemplo. Parecia que as coisas se repetiam porque eu mesma me repetia”. Mais à frente, no mesmo livro, ela concluiu laconicamente: “Viver é envelhecer, nada mais”.  Beauvoir é reconhecida e respeitada pelos seus trabalhos literários, estudos filosóficos e ativismo feminino, mas não posso concordar que “Viver é envelhecer, nada mais”. E nem digo isso do ponto de vista da crença religiosa, daquela que espera por outra vida.  Imagino o envelhecimento como coroamento de uma vida que se possa orgulhar. Saborear as experiências vividas e os amigos conquistados. Ver a família construída à sua imagem e semelhança e concluir: foi bom!

Simone de Beauvoir deve ter construído a solidão, longe do seio familiar.

Prefiro os versos de Arnaldo Antunes que diz: “Não quero morrer, pois quero ver. Como será que deve ser envelhecer.  Eu quero é viver pra ver qual é.  E dizer venha pra o que vai acontecer.     

Viver é envelhecer, tudo mais! Mesmo que seja, mais cinquenta e poucos anos.

Fonte: Nino Marcatti

Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.

Outros artigos de Nino Marcatti
Deixe seu Comentário
(não ficará visível no site)
* Máx 250 caracteres

* Todos os campos são de preenchimento obrigatório

1413 visitantes online
O Canal de Vídeo do Portal Cidade de Itapira

Classificados
2005-2024 | Portal Cidade de Itapira
® Todos os direitos reservados
É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste portal sem prévia autorização.
Desenvolvido e mantido por: Softvideo produções