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Itapira, 24 de Abril de 2024
Artigo
10/11/2013 | Nino Marcati: A oração do pensamento

 

Conheço Pádua Colosso de longa data, mas tivemos por uns tempos algumas diferenças de ordem política. Permitimo-nos, há cerca de 15 anos, superar tais divergências sem que nenhum dos dois tivesse que abrir mão das convicções então sustentadas. Descobrimos, mutuamente, que o diabo não é tão feio como se pinta. Desde então, nas oportunidades, trocamos figurinhas diversas e pensamentos proveitosos.
 
No dia 07 de maio deste ano, completei cinquenta e oito anos. O primeiro com a marca da tristeza. Sem festa, nem presentes... Desde que eu me conheço por gente, o bolo de aniversário é coisa sagrada. Minha mãe fazia questão que fosse comemorado com bolo, mesmo sendo só ele, o dia que cheguei a este mundo. Ordem que eu sempre procurei seguir. Lembro-me, como se fosse hoje, de um aniversário que comemorei longe daqui, na faculdade, quando eu e meus amigos de república compramos três bolos Pullman e os recheamos com leite condensado Moça tirado da lata, sem passar pelo fogo. Ficou gostoso e a comemoração foi divertida!
 
Pois é. Mas esse aniversário de 2013 aconteceu um dia depois da morte e do sepultamento da minha mãe. Foi o primeiro dia da minha vida sem ela entre nós. Apesar de ter desenvolvido a aceitação dos desígnios da vida, compreendendo que não devemos nos debater, nem construir uma capela de sofrimento sobre os acontecimentos que não podem ser alterados, acordei mais reflexivo naquele dia.
 
Ao sair de casa, pela manhã, a poucos metros avistei Pádua Colosso que realizava a sua costumeira caminhada. Logo que ele me viu, acenou para que eu parasse o carro. Queria falar comigo. Não era uma atitude habitual. Normalmente, quando nos encontrávamos em situação semelhante, apenas nos cumprimentávamos. Imaginei, então, nos segundos seguintes, que ele pretendia me dar os pêsames pela passagem de minha mãe ou então parabéns por mais um ano de vida completado. Afinal, os dois temas dominavam os meus pensamentos. Ele não fez nem uma coisa, nem outra. Dizendo que precisava me dirigir algumas palavras, teceu considerações elogiosas a meu respeito. Num primeiro instante, confesso, me senti atônito. Afinal, as palavras ao pé da letra usadas por ele, em princípio, não buscaram o reconforto da perda irreparável e nem manifestaram felicitações pela data querida, mas acabaram colocando um terceiro elemento naquele dia, que tanto demorei a decodificá-lo.
 
As palavras proferidas por ele, apesar de gentis – perfeitas para inflar o ego de qualquer pessoa – não ganharam importância, nem ao menos as gravei. Mas registrei com riqueza de detalhes a forma como elas foram ditas e mais tarde as associei. Imagino que Pádua não soubesse dos dois acontecimentos, pois nada comentou. Eu, por minha vez, preferi não intervir. O que foi bom. Serviu para não quebrar o encanto.
 
Um encanto que não amenizou tristezas, mas serviu, mais tarde, para me fazer valorizar ainda mais a palavra amiga despretensiosa, o elogio mesmo não totalmente merecido, a mão estendida, a importância da boa alma, o sentimento de felicidade e a grandeza da serenidade.
 
Talvez, naquele dia, eu não tenha agradecido como deveria o gesto espontâneo de Pádua Colosso. Hoje o faço através deste texto que a ele dedico.
 
Sequestro, portanto, o que Victor Hugo diz: “Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos.”
Fonte: Nino Marcati

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