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Itapira, 20 de Abril de 2024
Artigo
11/08/2013 | Nino Marcati: Nem a Cesar, nem a Deus?

 

 
Agora que o Papa já se foi - levando a admiração quase unânime do povo brasileiro - é hora de falar de uma virtude dele que chamou a minha atenção: a distância que ele, delicadamente, colocou entre a Igreja e o Estado, atendendo estritamente as orientações protocolares. Não o vimos tentando se mostrar íntimo do poder brasileiro ou fazendo pedidos em benefício da Santa Madre Igreja. Uma atitude divergente da tradição.
 
O Brasil estabeleceu a separação entre Igreja e Estado, por decreto, trinta e três dias após a proclamação da república, dando-nos, desde então, a condição de estado laico. Antes, apesar da liberdade para que outras religiões se instalassem no país, o catolicismo era a religião oficial do império e só podia ser eleito para o congresso quem se professasse seguidor da Santa Sé. Um procedimento cultural importado. Estado e Igreja foram ligados, umbilicalmente, desde os tempos mais remotos e catalogado por várias civilizações.  A ruptura ganhou força com a Revolução Francesa e expandiu. Um movimento que só bateu em nossas portas, muito tempo depois. 
 
Apesar da laicidade, continuamos atrelados às tradições, misturando politica com religião. Não foi à toa que no preâmbulo da Constituição de 88, depois de uma forte ação lobista engrossada pela bancada evangélica e do silêncio obsequioso dos católicos, foi incluída a expressão “(...) com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus. (...)". Uma inclusão, aparentemente inofensiva, mas que acabou nos levando à ré. Dela, a maioria das casas legislativas invoca Deus nos ritos de abertura e muitas delas – a de Itapira no meio – leem um trecho bíblico em todas as sessões. Além disso, passamos a conviver com a profusão de símbolos religiosos – basicamente crucifixos – nos prédios públicos, não só descaracterizando o Estado laico, como desrespeitando as pessoas que professam crenças diferentes ou não são adeptas aos símbolos impostos. Sem falar nas tentativas de intervenção legal, aos não seguidores, lastreadas em suas doutrinas particulares. 
 
Ao analisarmos o que acontece nesse país varonil, será que a exposição ou assunção de símbolos religiosos ou a invocação de textos bíblicos não se configurariam flagrantes desrespeitos a Deus e às religiões? Não devemos generalizar, mas as notícias tem mostrado que os autores de deslizes pouco ouvem as determinações divinas. Como há processos que vem de longa data, não me parece que a simples exposição possa redimir essa gente. Da minha parte, eu tiraria Deus dessa parada. Quem sabe, tais pecadores passariam a se sentir menos protegidos para a vida eterna. 
 
Entretanto, nunca joguei no time dos que professam a exclusão ou clamam pelo impedimento de líderes religiosos na vida política do país. Uma coisa, nada tem a ver com a outra. É obrigação democrática ter todos os segmentos organizados e representativos da sociedade participando das estruturas de poder. 
 
Aliás, se esperamos dos nossos políticos que eles tenham cada vez mais afeição e competência para lidar com a coisa pública, que saibam enfrentar com serenidade os pensamentos adversos, que vejam o fim dos seus mandatos como alavanca para o futuro, mesmo não sendo mais os escolhidos, o que não devemos esperar daqueles que nutrem tais sentimentos com a ideia “de que devemos amar o próximo como a nós mesmos” e que tenham o perdão como ato básico da fé cristã?  
 
Fonte: Nino Marcati

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