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Itapira, 29 de Mar�o de 2024
Artigo
17/02/2015 | Nino Marcati: O Carnaval e a garrafa

Em reunião com amigos, discutimos, recentemente, o triste fim do nosso carnaval. Aquele carnaval de salão que a gente contava os meses, as semanas, os dias e as horas que o antecedia. Era festa para todos os gostos e todas as faixas etárias. Até para quem não gostava ou não aprovava os exageros, aproveitava o período para descanso ou para retiro espiritual ou arriscava um olho na televisão. Mas a maioria entrava na folia.

Entre os que participavam todos se divertiam: os casais casados ou em vias de; os namorados que varavam incólumes ou os que brigavam pelo menos uma noite ou os que se separavam, estrategicamente, até a quarta-feira de cinzas; os foliões solitários; os que pegavam e os nem tanto; os que bebiam todas sem tombar e os que bebiam até cair ou até a injeção de glicose na farmácia amiga; os que brincavam em grupos; os que soltavam a franga...

Tentei me lembrar, dentre as tantas que animavam o nosso carnaval, qual marchinha traduziria melhor aquele clima inebriante. Sem pensar muito, veio-me esta: “É hoje que eu vou pra farra. Ninguém me agarra. Eu vou me espalhar. Maestro manda aquela brasa. Saí de casa pra vê bumbo furar. Mas se bumbo furar. Deixa a coisa pra mim. Eu vou de garrafa batendo assim. Dig dim, dig dim, dim (hei!)”. Nenhuma outra, das que me lembrei de supetão, traduziu melhor a ideia de que o carnaval era aquele que nós mesmos produzíamos. Queríamos diversão mesmo que o bumbo furasse, a orquestra parasse, a luz apagasse, a chuva molhasse.

Chamei a nostalgia, não para louvar aqueles tempos, por melhores que eles tenham sido para a minha geração. O tempo é outro. O mundo mudou. O Brasil mudou. O carnaval mudou. Nós mudamos. Só não conseguimos, a meu ver, transferir o desejo de se divertir nos carnavais na evolução dos anos. Talvez a razão seja esta: deixamos de lado o carnaval espontâneo para editar um carnaval burocrático.

O carnaval de hoje só saiu da condição de feriado prolongado e assumiu a tradicional vocação nas cidades que mantiveram o espírito, cada qual do seu jeito, levando os foliões à diversão, transferindo o que fazíamos nos salões para as ruas. Não me parece ter sido este o caminho escolhido por Itapira, tampouco pelas cidades vizinhas. Neste ano, várias prefeituras cancelaram a programação oficial de carnaval, que independentemente das justificativas, duvido que há quarenta anos tivéssemos um carnaval desestruturado por decreto municipal ou federal. O povo carnavalesco iria para a farra, de qualquer jeito.

Não sei se Itapira deseja o retorno do bom e divertido carnaval. Caso esse desejo continue latente, não vejo alternativa senão tirar o povo da plateia e leva-lo para as ruas, assim como fazem os blocos que arrastam multidões em muitas cidades brasileiras, sob o signo da diversão coletiva. Blocos que organizam seus próprios horários; criam suas próprias fantasias; montam suas bandinhas ou baterias ou trios elétricos; definem os temas; levantam bandeiras sociais, políticas, esportivas, culturais ou nenhuma; agregam livremente pessoas amigas e simpatizantes ou comprometidas com o tema. Blocos que fazem uma grande festa popular, sem grande estrutura sem muitos gastos para a municipalidade.

Qualquer iniciativa nesse sentido, em nossa cidade, somente lograria êxito se os carnavalescos arregaçassem as mangas no desenvolvimento de ideias e arregimentação daqueles que também querem se divertir no carnaval. Não tenho dados de pesquisa, mas acredito que nos dias de hoje não teríamos mais do que cem carnavalescos (com tendência de redução) com disposição para buscar um carnaval livre com soberania popular. Somente o pessoal do ramo pode dar luz e execução às novas ideias. Afinal, colocar um bloco na rua requer três ingredientes básicos: um grupo de pessoas animadas, barulho carnavalesco de qualquer natureza e alegria. O percurso ou a concentração quem poderia definir é o próprio bloco ou o conjunto deles, desde que comunicasse ou se entendesse com os setores responsáveis para garantir a segurança dos participantes. Depois, bastaria ir com pelo menos uma garrafa batendo assim: Dig dim, dig dim, dim..
Fonte: Nino Marcati

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