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Itapira, 19 de Abril de 2024
Artigo
09/06/2013 | Nino Marcati: O rio que passou em minha vida.

 

Foto extraída do album Facebbok de Humberto Butti.

Voltou a figurar na minha página pessoal, esta semana, uma foto do álbum “facebookiano” de Humberto Butti tirada do alto do morro da Tiradentes, um pouco abaixo da esquina com a Pedro de Toledo, que congelou o bairro da Vila Ilze na grande enchente de 1970.

Recordei o triste cenário e as condenações dirigidas ao rio que ao longo da história nos traz mais benefícios, que prejuízos. Ao transbordar e invadir as regiões niveladas sobrava pressão ao poder público, colocando o ribeirão como um intruso, que retaliava com inundações os que ousassem a ocupar sua vazante. Ele foi retificado, a região, devidamente drenada, povoada quase sem risco de intempéries. 

A foto histórica, além de relembrar o trágico acontecimento, me levou para outros caminhos. Vi o morro, ao fundo, que antes abrigava uma mata que servia de morada aos urubus. Pelo menos era o que meu pai dizia quando eles passavam rasantes, sobre a rua da minha casa, todas as tardes, naquela direção. Vi a Olaria do seu Agostinho, pai do meu amigo João e brotaram lembranças das nossas aventuras nas áreas de extração de barro. Do lado direito da pinguela tinha um ponto de natação, conhecido como “Toquinho”, por causa de uma árvore que tombou e ficou encravada na margem. Dele a gente mergulhava com se fosse de um trampolim fixo. Fantásticas recordações.

O rio que hoje contemplamos nada guarda com o do meu tempo de criança e adolescente. Sem os longos períodos de chuva, sua água era limpa e bem cheirosa, refletia o verde das capituvas e da mata ciliar distribuída nas margens. Era um rio cheio de curvas e águas calmas, com pequenas e curtas corredeiras.

O rio que passou em minha vida começava no Eliel, atrás da Cerâmica Riboldi, no Bairro dos Prados, onde um alto barranco nos servia para mergulhos e brincadeiras. Mais embaixo, na altura do final da Rua Milico antes da represa do SAAE, a correnteza mais tranquila deliciava as nossas decidas sustentadas por boias de caminhão. Entre o ponto do represamento e a pinguela de madeira, a margem por onde hoje passa a Avenida dos Italianos era ponto de concentração da moçada e famílias nas tardes de domingo. Quando aconteciam os batizados evangélicos, o evento reunia quase a cidade inteira, mas muitos buscavam diversão, não religiosidade.

Depois da pinguela da represa, no poço “do Geraldinho”, coalhado de lambaris, figuras como Trajano, Tenente Pintor e Tocha exibiam suas técnicas de pescadores. Duzentos metros depois da ponte de terra - que liga o centro ao bairro do Cubatão - vinha o ponto favorito de natação da minha turma (a da Vila Gato), o “Porto do Luca”. Foi o lugar onde aprendi a nadar, sozinho. Na sequencia, a praia mais popular da cidade: “a prainha”, que também transformava os domingos em festa. Dali, seguindo a trilha chegávamos ao “poção”, que além da pescaria, árvores frondosas nos ofereciam sombras refrescantes, mesmo nos dias mais quentes. No poção, como em outros pontos, pescávamos lambaris, ferreirinhas, mandi-xingas, traíras e bagres, alguns pescadores chegavam a fisgar carpas e tabaranas. No susto, um dia eu cheguei a pegar uma bela chapara, que levei para casa como um belo troféu. Finamente, mais embaixo, o “Toquinho”, aquele que inspirou este texto.

O rio que corta a nossa cidade, certamente não mais provoca enchentes nas mesmas proporções, mas também não produz mais peixes, muito menos a vida de outrora. Talvez nem histórias...  

Fonte: Nino Marcati

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