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Itapira, 20 de Abril de 2024
Artigo
28/04/2013 | Nino Marcati: O trabalho nosso de cada dia.

Às vésperas do Dia do Trabalho passa pelos neurônios que me restam, uma preocupação: por que não comemoramos mais, com tanta alegria, o dia dedicado ao conjunto de atividades exercidas pelo Homem desde a sua existência? Nos meus tempos de criança, meu pai, operário da Sarkis, sentia a festa e me levava à praça para ver o desfile das empresas instaladas no município.  Ao Dia do Trabalho eram oferecidas as mesmas pompas das grandes festas do ano.

O tempo acabou tirando a festa e colocando uma reflexão: “o que nós tínhamos para comemorar?” Depois de ver o milagre brasileiro - da ditadura militar - passando, assistimos o crescimento do bolo sem ver a fatia aumentar para a base que gerava aquela riqueza: o Dia do Trabalho politizou-se. Dos desfiles ufanistas, vieram os palanques patrocinados pelos sindicatos e partidos oposicionistas objetivando a busca da consciência da valorização da mão de obra nacional e da redistribuição da renda. Itapira, à sua maneira, festejará o dia abrindo o 36º Jogos dos Trabalhadores no Chico Vieira. Nos grandes centros serão oferecidos festas e discursos para as grandes concentrações, com menos política na pauta, mais artistas e sorteios de motos, carros e apartamentos bancados por sindicatos e suas diretorias quase eternas. 

Não posso dizer que a politização do Dia do Trabalho tenha contribuído para a redução da alegria da comemoração. Não tenho dúvidas, porém, sobre a contribuição que esse processo representou para a luta dos trabalhadores brasileiros. Mas vejo com certa perplexidade, nesse tempo, a tendência de não tratarmos, também, o  “trabalho” como sendo uma necessidade humana a extrapolar o valor quantificado e recebido ao final de cada mês. Por outro lado, vejo quase todo mundo reduzindo o ato de trabalhar como sendo um fardo a ser carregado até a aposentadoria ou depois dela.

A palavra “trabalho” vem do latim “tripalium” que era usada para designar os instrumentos de tortura, que fatigava ou provocava dor. Um conceito engrossado pelas escrituras – Gênesis - que diz que Adão, depois de pecar, teve de trabalhar para ganhar a vida com o suor do próprio rosto. Um pecado extensivo às gerações seguintes que passaram a ver o trabalho como coisa ruim, como um castigo de Deus.

A transformação do trabalho como força de valor quantificado é recente, não tem mais do que duzentos anos quando sociedade se voltou para o lucro e para a prosperidade, levando o trabalhador à condição de instrumento de produção – de mercadoria - para construir capital alheio.

Tudo bem, a causa é justa, mas penso que não deveríamos ter deixado para segundo plano que o trabalho materializa a realização pessoal, dá a noção social do dever cumprido, nos faz evoluir profissionalmente e desenvolve as relações interpessoais.

Trabalhávamos no principio dos séculos, exclusivamente, para matar a fome. Disputávamos o pão nosso de cada dia com todos os seres vivos avizinhados, amedrontados ou não. Enquanto todos os animais se preocupavam com a sobrevivência, nós trabalhamos e transformamos o mundo. Dele, produzimos o conforto e a qualidade de vida que conhecemos. Cutucamos a ciência, de onde saíram as descobertas, curamos doenças e prolongamos a vida. Distanciamo-nos da morte e da extinção da raça.

É possível imaginar a vida humana sem os recursos hoje oferecidos? A origem de tudo, a manutenção e o que há de vir por aí tem o trabalho de alguém para garantir. Processo universal compartilhado por patrões, empregados, profissionais liberais e até pelos “vagabundos” ao desenvolverem na maioria de nós a aversão à ociosidade.

O trabalho é e sempre será mais do que um resultado financeiro decorrente. A valorização depende do senso de justiça, que apesar de óbvio, a humanidade caminha lento. Festejemos o trabalho a despeito das discordâncias. Busquemos os resultados, como buscamos as compensações sem necessariamente vincular uma coisa à outra. Feliz Dia do Trabalho para todos.

Fonte: Nino Marcati

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