Continuei contando que essa chaga se instalou antes do Brasil festejar o primeiro século do descobrimento. Os registros contam que os responsáveis pela fiscalização do contrabando recebiam propinas e comercializavam ilegalmente os produtos brasileiros como pau-brasil, especiarias, tabaco, ouro e diamante, assim como faziam vista grossa para garantir o tráfico negreiro diante da pressão internacional. Com a proclamação da república mudamos a forma de governo, mas a forma de corromper só avançou, agregou a cor¬rupção eleitoral e os benefícios das concessões de obras públicas. A revolução de 1930 foi pavimentada pelo sentimento nacional de acabar com a fraude, a corrupção e o coronelismo, mas deu início à era Vargas, depois uma ditadura que se estendeu até 1945. Em 1950 ninguém fazia segredo da caixinha do Adhemar (Adhemar de Barros foi o governador do Estado de São Paulo que se vangloriava por ser “um fazedor de obras”, ostentar o lema “Rouba, mas faz!”.). Concomitantemente, Getúlio Vargas, agora como presidente eleito, era considerado o centro da corrupção brasileira e por conta do chamado mar de lama, conforme denunciavam pelos seus adver¬sários, acometeu suicídio em 1954. A ditadura militar iniciada em 1964 nasceu para aniquilar o câncer da corrupção. Os vinte e um anos de chumbo com seus casos como o Coroa Brastel, Capemi e o investimento em grandes obras com Ponte Rio Niteroi, Itaipu, Tucuruí, Transamazônica etc. são considerados os incubadores da moderna e eficiente corrupção brasileira. 

O restabelecimento da democracia, com a eleição do presidente da república através do voto direto não foi capaz de conter os escân¬dalos nos governos Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma. 

 

A conclusão parece obvia: a corrupção não tem cor, nem credo, nem ideologia. Mudança de governo não acaba com ela. A corrupção não nasce necessariamente nos governos, mas na sociedade. Só ela pode dar-lhe um fim ou pelo menos contê-la. 

 

Talvez a melhor resposta à indagação do jovem fosse esta: a corrupção só vai acabar quando a sociedade brasileira, como um todo, entender que a corrupção é corrupção independentemente do tamanho. Ela começa minúscula, mas ganha corpo com a maior facilidade. E muitas vezes, cometemos delitos e não damos a eles a força cancerígena que se estabelece, por difusão natural. Para acabar com a corrupção precisamos de um país, majoritariamente, honesto. Precisamos irradiar honestidade. Precisamos ser e parecer honestos. 

 

Como não poderia ser diferente, o jovem concluiu: “entendi. A corrupção nunca vai acabar no Brasil.” Emendei com uma frase bíblica: “tu o dizes!”