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Itapira, 28 de Mar�o de 2024
Artigo
03/09/2014 | Nino Marcati: Verde: vestita come cento anni fa

Era para estar correndo sangue verde em minhas veias. Nasci pal­meirense por parte pai e de mãe. As duas famílias de origem italiana que compuseram o meu sangue e a minha história eram palmeirenses fanáticas. Só não segui a estirpe por conta de um acidente, ou melhor, de vários acidentes: Gilmar; Lima, Carlos Alberto, Mauro, Calvet, Dalmo, Zito, Dorval, Mengálvio, Clodoaldo, Coutinho, Toninho Guerreiro, Pelé, Pepe, Edu... Duvido que qualquer outra criança que assistisse esse time em ação escolheria outro para torcer. Só se fosse por lavagem cerebral. Lembro-me dos “vts” que passavam depois das novelas da TV TUPY, eu e me amigo João, sentados no chão da sala dele, defronte a um aparelho Colorado RQ, rindo como bobos daqueles dribles e gols deslumbrantes.

Voltando ao Palmeiras que acabou de comemorar o primeiro cen­tenário, além dos rojões da meia-noite e da carreata de terça-feira, 26, no sábado, 23, reuniram mais de 300 alviverdes na Chácara Laurindo, no Bairro do Tanquinho. Coincidência? Pois é, andei fazendo contas, juntei algumas informações, aqui e ali, e cheguei à conclusão que as origens da torcida palmeirense de Itapira podem estar atreladas à chegada da família Marcati e a formação do Bairro do Tanquinho.

Itapira, nos primórdios do século passado, era dominada pelos por­tugueses e seus descendentes. Pessoas que não escolheriam o Palestra Itália para torcer, nem que a vaca tossisse. Gente que era resistente aos imigrantes italianos até debaixo d’água, éramos chamados pejorativa­mente de “italianinhos”, moradores que impediam os “italianinhos” de circularem sobre suas calçadas. Não é preciso dizer, que para os habitantes da cidade e de algumas áreas rurais também não era de bom tom torcer para aquele outro time que costumava colocar negros na equipe, o Corinthians, logo para esse povo sobrava a opção pelo São Paulo. Não é a toa que a maioria dos descendentes das famílias elitizadas daquela época seja sãopaulina.

Voltando ao bairro do Tanquinho, evidentemente, não quero com o parágrafo anterior fazer qualquer juízo de valores, atiçar revanchismos ou coisa que o valha, os tempos são outros, quero apenas corroborar a tese de que quando o Bonifácio Marcati -“mio bisnonno” - comprou o primeiro pedaço de terra itapirense, não demorou em construir o campo do Taquinho, que foi usado até bem pouco tempo. Os Marcatis eram apaixonados por futebol, o Tanquinho tinha time que jogava em casa e circulava por toda zona rural e cidades vizinhas. Os sábados à tarde, as manhãs e as tardes de domingo movimentavam o gramado (ou seria chão de terra?) irregular, cheios de buracos e uma plantação vistosa de guanchumbas daninhas que era retirada à mão, uma por uma. Torcer para o “Palestra Itália” era o único vínculo que os imigrantes italianos e seus descendentes tinham com a pátria “lontana”.

Meu pai sempre contava que “mio nonno” Alessandro Luigi acompa­nhava todos os jogos pelo “radião” da sala, ele se sentava com o ouvido colado e colocava o braço esquerdo sobre a mesinha onde ficava o apa­relho. Nessa hora, nada de barulho. Terminado o jogo, passava a mão no quinto de pinga que já estava de prontidão ao lado direito e bebia... O Palestra ganhando, bebia de alegria. O Palestra perdendo, bebia de tristeza. Sempre que meu pai repetia essa história eu imaginava que o jogo era apenas pretexto. Mais tarde, Joelmir Betting me deu uma luz: “explicar a emoção de ser palmeirense, a um palmeirense, é totalmente desnecessário. E a quem não é palmeirense… É simplesmente impossí­vel!” Entendi que “mio nonno” não bebia pelo jogo, mas pela emoção de ser palmeirense.

Para mim, o futebol oferece dois grandes momentos: um é quando o time da gente ganha, o outro é quando os times rivais dos amigos perdem. Sempre me senti desconfortável em gozar dos amigos palmeirenses, agora eu sei o porquê, mas continuarei gozando, apesar do desconforto... Afinal, futebol é alegria! Se não for hoje, será amanhã.

Fonte: Nino Marcati

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