Mais tarde, o golpe de 1964 se tornaria um dos assuntos que atiçaria a minha curiosidade.  Fiquei sabendo, dentre tantas barbaridades, sobre a sede da UNE incendiada, sobre a lei que colocou as entidades estudantis na ilegalidade, o “Massacre da Praia Vermelha” quando a faculdade de medicina do Rio foi invadida pela polícia,  expulsando violentamente os estudantes. 

 

Em 1968, o ano do famigerado AI5, a UNE realizava o seu trigésimo congresso quando a polícia invadiu a reunião e prendeu mais de mil estudantes. Muitos foram feridos, alguns gravemente. Na prisão, foram torturados e violentados sexualmente pelos policiais. Os que tentavam protestar contra aquela violência eram espancados e humilhados. Alguns pais, desses alunos, funcionários públicos, perderam os empregos e sofreram perseguições das forças repressoras. A imprensa ao tentar registrar os acontecimentos, tinha os equipamentos destruídos, acompanhados da proibição de publicar qualquer fato que tivesse sido observado.

 

Esse minúsculo resumo pouco reflete o que foi este país durante os 25 anos de chumbo, mas talvez seja o suficiente para estabelecer que acontecimentos similares não são bem-vindos neste país. Nem mesmo na nossa pequena Itapira. 

O protesto patrocinado pelo PSOL, engrossado por simpatizantes, realizado na terça-feira, 10, na Câmara Municipal, foi constituído, basicamente, por estudantes e professores. Gente que reside em Itapira com seus familiares. No meio deles não havia agentes revolucionários extremistas infiltrados, como no velho discurso da direita carcomida. Era gente, como a gente. Gente armada de nariz de palhaço, cartazes e faixas. Na boca, é verdade, escondiam vaias para serem usadas nos momentos adequados, se necessárias. Foram recebidos como bandidos. Cerca de oito viaturas da Guarda Municipal, Polícia Militar e Força Tática deixaram seus afazeres para proteger os vereadores daqueles “temíveis e ferozes” perturbadores da ordem. Estima-se que cerca de trinta agentes de segurança fardados e à paisana participaram da ação. 

 

Que tamanha crise de consciência tinha esses vereadores para tanto silêncio, inclusive o da combativa e ferrenha defensora dos movimentos sociais, a petista Sonia Santos. Ou quem poderia imaginar que o neopetista e o presidente da casa tenham tido a brilhante ideia de organizar tamanho aparato policial, para quem se arvora, rotineiramente, como contrários às ações totalitárias. Deveriam estar mortos de vergonha. Nenhum dos dez vereadores teve a competência de se levantar para falar do exagero e pedir a retirada dos policias, por absoluta desnecessidade. Preferiram realizar uma sessão burocratizada, como se além do plenário, nada estivesse acontecendo. Recurso usado e abusado pelos golpistas de sessenta e quatro.

 

Mas o mais preocupante foi a demonstração de inabilidade dos vereadores em lidar com movimentos dessa natureza. Foi o desconhecimento de que os conflitos sociais são desencadeados a partir da presunção da violência e da consequente salvaguarda. Não fosse o espírito democrático e a inteligência dos manifestantes, poderíamos ter assistido cenas lamentáveis.

 

Eu espero, sinceramente, que nesta terça-feira, 17, os vereadores redimam e peçam desculpas para o povo de Itapira. E que nunca mais repitam tamanha insensatez.