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Itapira, 23 de Abril de 2024
Artigo
19/05/2012 | Nino Marcatti: Um monte de “vagalumi”

 

Eu não tinha mais do que onze anos de idade quando meu pai viajou para a capital do estado da Guanabara. Sabe como é! Brasileiro que vai ao Rio de Janeiro e não visita o estádio do Maracanã é, mais ou menos, como ir a Roma e não ver o Papa. Por conta dessa tradição, lá estava meu pai assistindo um jogo noturno no maraca lotado. Logo ele que não era nada afeito ao futebol. Era, no máximo, um torcedor velado do Palestra Itália. Tal preferência, acredito, era em reverência ao pai dele, “mio nonno Alessandro Luigi”. Este sim, um palestrino fervoroso. Meu pai contava que meu “nonno” ouvia os jogos do Palmeiras tendo o rádio de um lado e o quinto de cachaça do outro. A cada gol marcado e na vitória, ele bebia para comemorar. A cada gol sofrido e na derrota, ele entornava o quinto para afogar a tristeza. Dizem que dentre os imigrantes fanáticos pelo Palestra, a maioria fazia o mesmo. Não se sabe, ao certo, se essa dedicação era voltada para o Palmeiras ou para os encantos da cachaça.
 
O meu pai era um exímio contador particular de histórias infantis. Um privilégio que só eu tinha como filho único. Ele era o máximo. Levava-me com a maior facilidade para os bosques e castelos, aos cenários dos contos de fadas dos irmãos Grimm, das fábulas clássicas e folclóricas e das historietas que ele, com muita competência, inventava. Ah como a minha imaginação viajava. Até hoje, basta um pouco de silencio e concentração para que eu volte ao meu pequeno mundo de infância e o ouça.
 
Depois do Rio de Janeiro, antes de dormir, ele me contava os fragmentos da viagem feita. Foram tantos os detalhes aguçadores que a cidade carioca entrou definitivamente na minha história. Quando lá estive, pela primeira vez, me senti como se estivesse em casa. Uma velha conhecida. Não pelas imagens foto cinematográficas, mas pelos arquivos memoráveis construídos por meu pai. 
 
Da narrativa criativa sobre o Rio de Janeiro, na semana passada, um trecho veio à tona e me levou ao jogo do Maracanã assistido pelo meu pai. Assim ele contava: “O campo tava lotado. Não cabia mais ninguém. Era gente que gritava, cantava, torcia, agitava bandeira... Do lugar que a gente tava, a gente via todo mundo acendendo tantos cigarros que parecia um monte de “vagalumi” de tanto que piscava. Era bonito de ver!” 
 
É admirável! Meu pai, apesar da condenação constante ao tabagismo, conseguiu extrair uma imagem poética daquela massa de fumantes que acendia freneticamente os seus cigarros. Uns usando a caixa de palitos com fósforo, outros com isqueiros... Para o olhar dele, um grande pisca-pisca de Natal. Um monte de vaga-lumes. 
 
Na comemoração do tricampeonato santista, domingo passado, no Morumbi, lá estávamos na maior alegria: eu, Marylton, Carol, Pedro, Toninho, Donizete, Ricardo, Cavenaghi, Alessandro, Jean, Flavia, Ferrarini, Assir pai, Assir filho, Cintia, Eliane, Evandro, Fábio, Jaqueline, Bode, Lucas, Marcelo, Márcia, Nelson, Pedro Henrique, Rafael, Renato, Rogério, Rubinho, Sergio e Wilson. Quando eu olhei para o estádio como um todo, ele irradiava felicidade. Foi quando eu vi um grande pisca-pisca à minha frente. Parecia um monte de vaga-lumes. Não era desta vez os acendimentos de cigarros, mas milhares de máquinas fotográficas digitais em ação. 
 
A cena era semelhante. Tive uma lembrança muito gostosa do meu pai. Ele, certamente, comemorava comigo, mesmo não gostando de futebol.
 
Fonte: Nino Marcatti

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