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Artigo
16/10/2010 | O aborto do aborto.

Sou contra o aborto, desde criançinha. Abro com graça um assunto que não tem a menor graça, mas ao que parece tem muita gente na maior graça com ele. Não sei se é por religião, ignorância ou pura ma fé.

A gravidez não esperada atormenta a humanidade, per omnia saecula saeculorum. Os primeiros registros significativos vêm da idade média. Os grandes senhores ou seus filhos ao engravidarem suas companheiras de diversão obrigavam-nas à exposição dos seus recém-nascidos, na calada da noite, em uma pedra externa às muralhas protetoras das cidades, para serem devorados vivos pelos animais da mata. Pelo mesmo motivo, em Roma, o número de bebês apanhados nas redes de pescadores no Rio Tibre era tão grande, que o Papa Inocêncio III, no final do século XII, criou a “Roda dos Expostos” para que fossem instaladas nas paredes dos conventos, igrejas ou hospitais religiosos, onde as mulheres pudessem colocar ali as crianças nascidas sem o beneplácito dos geradores. Esse instrumento permaneceu ativo na Europa por novecentos anos. No Brasil, o tivemos por cento e vinte e cinco, até 1950.

É certo que esta “Roda” poupou muitas vidas, mas não foi suficiente para garantir sorte igualitária a todos os recém-nascidos durante o período de atividade. Para alguns estudiosos, ela nada mais fez do que tapar o sol com a peneira e atenuar o pecado dos fieis colaboradores paroquiais. Talvez tenha retardado as soluções.   

Estamos no século XXI. A tendência mundial, em determinadas circunstâncias, é a de liberalizar o aborto segundo estudos das Nações Unidas. O Brasil, no entanto, se assemelha a países da África ao classificar o aborto como crime contra a vida. A Conferência Mundial de Direitos Humanos, celebrada em Viena em 1993, reconheceu que os direitos das mulheres são também direitos humanos e que os países deveriam garantir uma atenção adequada à sua saúde, assim como ao planejamento familiar. 

A Organização Mundial da Saúde revelou que cerca de 45 milhões de abortos são realizados anualmente. Entre esses, 20 milhões são realizados em condições inseguras e ilegais.  A taxa média de mortalidade devida a abortos induzidos é de 0,6 a cada 100 mil abortos nos países onde a prática é legalizada. Nos demais, o número sobe para 330 mortes a cada 100 mil abortos. Ocorrem cento e cinqüenta mil mortes por ano de mulheres em decorrência de abortos inseguros, ou seja, sem recursos mínimos de higiene e assistência capacitada. Cerca de 60% dos leitos de ginecologia no Brasil são ocupados por mulheres com sequelas das práticas abortivas. As mulheres com boas condições sociais e econômicas procuram as clínicas particulares, enquanto as mulheres pobres recorrem às aborteiras, chás, agulhas de croché, etc..

 

A Pesquisa Nacional de Aborto (PNA), recentemente divulgada, planejada pelos Pesquisadores do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero e da Universidade de Brasilia, com o suporte da Agência IBOPE Inteligência, concluiu que o aborto é tão comum no Brasil, que uma em cada sete mulheres fez aborto antes dos 40 anos.

O estatuto da Corte Penal Internacional, sediada em Haia, considera a questão da gravidez forçada como um crime de lesa humanidade e crime de guerra quando associada à violência,  escravidão sexual, prostituição forçada, esterilização forçada e outros tipos de abusos sexuais graves.

 

Apesar do caminho escolhido pelo mundo desenvolvido, reconheço o direito de manifestação das pessoas e entidades contrárias ao aborto. Apesar da indução do texto, eu sou contra o aborto. Já fui radical. Eu tenho o direito de ser contra, seja pela minha formação ou crenças ou pelas garantias constitucionais. Mas eu não tenho o direito de exigir que as minhas vontades sejam satisfeitas pelo conjunto da população. Não vejo a religiosidade humana como mentora dos bons fluidos para esse mundo em todas as questões. Não fossem os iluministas do século XVII, a nossa vida seria, seguramente, um inferno. 

Assuntos da natureza humana não devem ser tratados em uma campanha eleitoral, onde abortistas convictos viram defensores incondicionais da vida intra-uterina e se juntam aos defensores honestos ocasionando, talvez, uma aberração legislativa futura.  O aborto é assunto para plebiscito, depois de muita discussão.

 

É legitima a manifestação livre dos credos e das idéias. É inconcebível o obscurantismo de uns e o oportunismo eleitoreiro de outros. Condeno, com veemência, a falsidade propositada dos dois candidatos a presidente e dos apoiadores caricatos.

 

O homem tem degraus a vencer nesse mundo de Deus. A defesa da vida é um princípio essencial. Faz-se, primordialmente, por: redistribuição de renda, saúde pública de qualidade, educação eficiente, respeito ao meio ambiente e reflexões humanizadas e religiosas responsáveis. Não existem soluções mágicas.

Fonte: Nino Marcatti

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