A manhã do dia 7 de abril, Dia
Mundial da Saúde, foi movimentada. Para a OMS, saúde é o estado completo
de bem-estar: físico, mental e social. Quer dizer, estar saudável não significa
não estar doente, mas ter o corpo e a mente em harmonia, propiciando bem-estar,
disposição e vitalidade. Os médicos brasileiros aproveitaram a data para
protestar contra os maus tratos profissionais recebidos dos planos e seguros
saúde.
Não sei se por ironia ou por
mera coincidência, nas primeiras horas daquele mesmo dia, um jovem de vinte e
três anos praticou um crime novo em terra brasileira: entrar numa escola,
atirar a esmo e matar várias crianças. Ironia por que um sujeito que faz uma
coisa desse tipo, não goza da saúde preconizada pela OMS. Pode se apresentar
como uma pessoa normal, sem passagens pela polícia, mas carregar um fardo que a
atormenta, talvez, desde que estava no útero da mãe. Vieram à tona, na
tentativa de explicar o inexplicável, para os considerados normais: a
esquizofrenia e o “bullying”.
Provavelmente, quase todos os
moradores desse país ficaram chocados com o “massacre na escola carioca”. Digo
quase todos, pois muita gente nada ou pouco soube sobre o caso, por ignorância
ou desinteresse. Outros por insensibilidade ou sadismo não se chocam com essas
coisas. Alguns, até, devem ter ficado maravilhados com o evento televiso e a
coragem daquele cidadão que preferiu trocar a vida por alguns dias de fama ou
terem achado que o cara fez uma boa limpeza. Parece esquisito, mas tem muita
gente assim, nesse mundo.
Causa-me preocupação a resposta
que a população costuma dar a crimes dessa natureza, quando ganham grandes
espaços na mídia em face da excentricidade. Será que um casal jogando uma
criança pela janela voltaria a despertar tanto interesse, de novo? Ou uma
mulher que pode ter sido morta, esquartejada e suas partes jogadas para cães
famintos ganharia tantos dias no noticiário? Qual é o benefício da banalização
do crime?
É certo que há crimes
vinculados a razões diretas de enfrentamento ou prejuízo, moral, social ou
emocional entre pessoas. Crimes que podem ser resolvidos nos tribunais e os
culpados, punidos. Mas há ações criminosas desprovidas de motivo inspirador
qualificado. Cuja condenação é dada pelo próprio réu: o suicídio.
Uma sociedade inteligente
aproveita essas tragédias e evolui. Ela reflete e cria mecanismos de defesa,
sem interferir na vida cotidiana. A idiota prefere a generalização, bloqueia ao
máximo as possibilidades e acredita que conseguirá colocar seus entes queridos
sob uma redoma de vidro refratária.
Cabe refletir sobre a aceitação
da convivência harmoniosa com pessoas que vivem, implícita ou explicitamente,
fora do padrão considerado normal pela maioria. A existência de pessoas
portadoras de deficiências, de qualquer natureza, é um preço que cabe à
sociedade pagar. Afinal, ninguém poderá dizer dessa água não beberei. Aceitar
as diversidades de cor, credo, sociais, políticas, intelectuais, necessidades
especiais ou mentais, significa tratá-las com naturalidade, não como
especialidade. É transferir para os filhos, amigos e conhecidos o conceito
apurado e praticado por vida inteligente. É condenar, veementemente, os
próprios filhos sempre que eles deslizarem nessas questões. Assim, como pais de
filhos enquadrados nessas diferenças, as aceitem e não as façam de subterfúgios
protetores que poderão produzir maus resultados no futuro. E muito menos, impingir
à sociedade ou às suas instituições a tarefa que, incondicionalmente, lhes
cabem.
Não bastam aos nossos
governantes as expressões condoídas pelas vidas ceifadas dos brasileirinhos,
num ambiente em que era das suas responsabilidades os cuidados necessários.
Além de melhorar a segurança, deverão buscar mecanismos eficientes para
restringir o uso de armas de fogo pela sociedade civil.
Uma grande marca de
refrigerantes está veiculando uma propaganda oportuna de forte impacto
emocional, cujo tema é: os bons são maioria. Traz-nos a idéia de que não
vivemos num mundo onde a maldade prevalece. É o caso, por exemplo, da
generalização que se planta na escola pública. Para muita gente, lá só têm
bandidos. É como se concluíssemos que naquela escola do Rio não morreram
crianças inocentes, mas a maioria de futuros criminosos. Tal pensamento, além inoportuno
é totalmente dispensável. As escolas estão aí para transformar as pessoas,
elevando seus conhecimentos. Taxar os próprios alunos de bandidos é reconhecer
a incapacidade profissional exigida. Ao
aceitar essa verdade, é classificar a sociedade como idiota.
Esperemos, então, que a morte
daquelas crianças não tenha sido em vão.
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