As celebrações pascais não se esgotam no domingo especialmente dedicado à ressurreição. Elas se prolongam dentro do calendário cristão até a celebração de Pentecostes, cinquenta dias após a solenidade de Páscoa. Além disso, o domingo é um tipo de Páscoa semanal dos cristãos. Cada vez que nos reunimos e partimos o pão entre nós celebramos a Páscoa. Em um clássico da literatura cristã antiga, chamado ‘Os Diálogos’ de Gregório Magno, onde ele conta a vida de Bento de Núrsia, pai do monaquismo ocidental, há o episódio em que, depois de um tempo considerável vivendo como eremita, ele encontra um sacerdote. Nesse encontro, o sacerdote, ao saudar o monge diz: ‘Feliz Páscoa’, ao que o monge responde: ‘Sei que é Páscoa, porque encontrei você’. Assim, podemos deduzir, que o encontro entre os irmãos, em si, para a vivência do amor fraterno é um sinal de que a Páscoa se fez. Quando nos encontramos aos domingos, na festa da ágape, a Páscoa se realiza porque o amor nos faz passar da morte para a vida: “Sabemos que já passamos da morte para a vida porque amamos nossos irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1 Jo 3.14). Ter consciência dessas coisas pode alterar a nossa percepção quanto ao culto dominical. A Ressurreição de Cristo não teve expectadores, mas testemunhas. Assim, o culto não tem expectadores ou meros participantes, mas testemunhas do que o encontro com o Cristo ressurreto pode fazer, que transformações pode realizar. Essa verdade compromete não só a assiduidade de nossa presença no ajuntamento solene, mas sobretudo, nos engaja na proclamação da Ressurreição do Senhor, na tradução dessa proclamação em ações concretas de acolhimento dos socialmente marginalizados, socorro dos vulneráveis, amparo dos órfãos e viúvas. De maneira especial, a Páscoa dominical nos incube, assim como às mulheres da manhã do túmulo vazio, como pregoeiros da notícia mais desconcertante do mundo e da história: Ressuscitou! Nos dias que se seguiram a ressurreição de Jesus Cristo, Ele manteve encontros com a comunidade reunida no cenáculo e encontros mais privados, como no caso de Pedro. Esses encontros são profundamente ‘curadores’, terapêuticos e serviram para restaurar a paz, a saúde emocional e espiritual dos discípulos, bem como restaurar a fé e o amor deles, bastante esfriados naquela altura dos acontecimentos. A Páscoa foi, assim, aplicada, internalizada nos apóstolos e nos demais presentes no cenáculo, para que pudesse voltar à normalidade da vida, uma vez que estavam escondidos, a portas trancadas por temerem os judeus. Quando nos apresentamos nas reuniões dominicais, muitas vezes, comparecemos à Casa do Senhor cheios de feridas, hematomas, abatimentos e cansaços psíquicos, afetivos, emocionais e espirituais. Na maioria das vezes somos todos oriundos de uma semana de lutas, esforços, metas não atingidas ou performances aquém do desejado por nós, mais do que pelos outros. Há um refrão de um hino do nosso hinário que traduz exatamente essa experiência: ‘Eu venho como estou! Sim, venho como estou! Porque Jesus por mim morreu, Eu venho como estou!’ (HNC 74). E vindo ao encontro de Jesus, em cada Páscoa semanal, nos apresentamos diante dele com a concretude nossas vidas e nossas experiência, e para quê? Para sermos tratados, encorajados, confortados. Para que a presença nessa atmosfera marcada pela glória do Santo Nome nos devolva serenidade, sanidade ao ouvir a voz de Jesus irromper em meio a algazarra do nosso coração convulsionado: “Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: Paz seja com vocês! Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se quando viram o Senhor. Novamente Jesus disse: Paz seja com vocês” (Jo 20.19-21). Precisamos de paz e ela é nos ofertada, diferente de tudo o que o mundo conhece, apenas por Jesus e na reunião dos discípulos. Não deixe as aparências enganar você, hoje, não é mais um domingo e nem mais um culto, mas: “Pois ele diz: Eu o ouvi no tempo favorável e o socorri no dia da salvação. Digo-lhes que agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação! (2 Co 6.2).
Reverendo Luiz Fernando é Ministro da Igreja Presbiteriana Central em Itapira.
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