O título desta pastoral é a junção de duas belíssimas antífonas da antiquíssima tradição litúrgica da igreja cristã. Traduzidas livremente, dizem algo assim: Cristo nossa Páscoa foi imolado, ressuscitou como disse, aleluia! É o mais perfeito sumário das celebrações pascais, pois de fato, Cristo o nosso cordeiro pascal foi imolado. Como nosso substituto dando pleno e verdadeiro sentido e eficácia aos sacrifícios da antiga dispensação, Cristo se oferece como oferta pelos nossos pecados e essa oferta ele faz por nós, em nosso favor, mas não para aí. Ele também nos substitui no madeiro. A cruz não foi preparada para ele, pensada nele, mas para nós, pensada em nós, malfeitores, homens cruéis e pecadores inveterados. Abraçando livremente a paixão, ele o faz em nosso lugar, carrega sobre si as nossas enfermidades e iniquidades e recebe em seu corpo o castigo que deveria ser descarregado sobre nós. Na liturgia de sua crucifixão, a um só tempo, Jesus é sacerdote, altar e cordeiro. É o ofertante, sobre ele a oferta é sacrificada e ele mesmo é o sacrifício. O Pai aceita nos céus o holocausto do Cordeiro amado e desvia de nós a sua ira e assim, nos recebe de volta em seu seio. Mas o sacrifício de sua vida física, sua morte real não conta toda a história. Ele ressuscitou ao terceiro dia, como havia dito, sua ressurreição física, histórica é real, aconteceu de fato. A ressurreição de Cristo é as primícias e a o penhor da nossa ressurreição. O seu corpo agora glorificado é uma prova antecipada do que acontecerá também com esse nosso pobre corpo mortal. Um dia seremos como ele é agora e o contemplaremos face a face. Muitas outras mensagens podem derivar das festas pascais, como o desejo de que todas as coisas sejam renovadas, que as marcas da cultura de morte desapareçam da sociedade, que os homens se reconciliem, que as guerras cessem de uma vez, que o perdão seja estendido a todos de maneira incondicional, como o da cruz. Entretanto, a igreja nunca poderá deixar de confessar e professar na liturgia, à luz das Escrituras, esse mistério que é o centro estruturante da nossa fé: Cristo Ressuscitou! Sem que esta verdade seja proclamada e ensinada, crida, vivida e celebrada, não há cristianismo autêntico, não há Evangelho poderoso, não há esperança que se imponha ao caos do mundo. A ressurreição de Cristo é o centro do universo criado, o eixo central da história dos homens e o ponto culminante da revelação bíblica. Vivemos dias estranhos na igreja. Os males do mundo são agravados quando a igreja muda ou perde o foco da sua mensagem. O ‘evangelho’ da prosperidade, do bem-estar, do ‘coach’ não é mais perigoso do que o ‘evangelho’ das causas sociais, do engajamento político, da teologia inclusiva. Infelizmente, não há lugar nessa pastoral para dizer que há espaço, em certa e equilibrada medida, de levarmos os homens a considerarem que a vida na Aliança acarreta toda sorte de bênçãos, materiais e psicológicas, inclusive. Há espaço para uma teologia encarnada e comprometida com a justiça e a transformação da sociedade e a luta em favor dos marginalizados. Mas essas são mensagens, ensinamentos derivados da mensagem central, irredutível e inegociável da ressurreição de Cristo. Essa proclamação está esculpida nas Escrituras de Gênesis a Apocalipse e é dramatizada nos sacramentos, de maneira que no batismo participamos da morte e ressurreição de Jesus e na Ceia, recordamos a sua paixão, anunciamos a sua morte, proclamamos a sua ressurreição e juntos, ceamos, aguardando a sua volta gloriosa. A Igreja, em si mesma, é um poderoso sinal da ressurreição de Cristo em meio as mortes do mundo. Ela é o sinal sacramental da humanidade redimida e que desde agora, já vive as primícias da ressurreição enquanto aguarda a transfiguração do seu corpo. Que as celebrações destes dias pascais nos encorajem a um retorno e a um apego mais deliberado de fazermos da mensagem da cruz e do túmulo vazio o centro da nossa pregação, a verdade mais desconcertante que um homem possa ouvir e a maior bênção que a igreja deve comunicar ao mundo. Como ensina o apóstolo: “...se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como também é inútil a fé que vocês têm. E, se Cristo não ressuscitou, inútil é a fé que vocês têm, e ainda estão em seus pecados” (1 Co 15.14,17). Feliz e santa Páscoa da Ressurreição de Jesus Cristo para todos!
Reverendo Luiz Fernando é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira.
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