O Domingo da Festa de Ramos dá início à semana da paixão e nos prepara de maneira imediata para a os festejos pascais. A liturgia recorda a última semana do ministério terreal de Jesus Cristo, a sua entrada triunfal em Jerusalém, as últimas tensões com os fariseus e os mestres da Lei, os seus últimos sermões e, por fim, a última ceia. Neste domingo de Ramos Jesus é aclamado Rei por uma multidão em festa que acolhe nos sinais visíveis dramatizados por Jesus assentado sob um jumentinho o cumprimento das profecias e esperanças de Israel. É bem verdade que mais tarde, seis dias depois, instigados pelas autoridades religiosas e políticas, essa mesma multidão trocará o Filho de Deus por um criminoso infame. Essa é uma lição para ficarmos muito atentos, sobretudo nesses dias de polarização política marcada com paixões e ódios gratuitos e a confusão existente entre os limites Igreja-Estado e a participação da liderança religiosa na construção da sociedade. Claro está que Jesus morreu em razão de nossos pecados. Sua essencial missão era a de salvar pecadores e reconciliá-los com o Pai, mediante o seu sangue derramado na cruz. Entretanto, os interesses políticos, a sede de poder e dominação e a sedução das riquezas serviram de meios pelos quais, Deus permitiu e providenciou que todas as coisas concorressem para a crucifixão. Não é possível servir a Deus e a César com igual lealdade, fidelidade e incondicionalidade. A única submissão e obediência incondicionais é aquela do coração a Jesus Cristo, ao seu Evangelho e a agenda do seu Reino. No que diz respeito a Jesus, ele não pode ser equiparado a nenhum outro líder, isso é apostasia. O seu Evangelho não pode ser reduzido a simples valores, ainda que nobres, não pode ser confundido com uma pretensiosa agenda moral. O Reino de Deus jamais pode ser plenamente identificado com qualquer plataforma política, qualquer governo ou ideologia de plantão. Por isso, os cristãos não devem se sacrificar, dividir, se comprometer a ponto de colocar em prejuízo a sua relação com Deus, com a igreja e seus familiares por questões político-partidárias. O Domingo de Ramos nos recorda que não é sensato aclamar Jesus Rei e deixar um espaço no coração para cultivar amores e paixões que possam reclamar e exigir lealdades concorrentes, isso é idolatria. Também nos ensina o fato de que possuirmos conhecimento Bíblico ou pertencer a uma religião, não muda as disposições depravadas do nosso coração e nem nos impede, no fundo, de fazermos escolhas com base na ‘ética da conveniência’ ou de ocasião. Porque o formalismo e o superficialismo religioso não sustentam a nossa profissão de fé quando as circunstâncias mais inflexíveis da vida reclamarem uma tomada de posição. O início da semana das dores de Jesus Cristo nos leva pelos caminhos das Escrituras e da Liturgia a buscarmos uma relação mais profunda e uma vida mais centrada em Cristo e ao mesmo tempo, comandam o nosso coração para um apego e uma lealdade inquebrantável ao Filho de Deus a despeito de qualquer pressão, opressão, ameaça ou oferta de facilidades. Um coração não incondicionalmente leal se venderá ao brilho reluzente das trinta moedas de prata, se deixará seduzir por ofertas de felicidade, posição social ou simples e inconsequência indiferença. O início da paixão de Jesus Cristo, sinalizada na cor litúrgica vermelha, nos recorda as duas realidades contidas na celebração deste domingo: A realeza messiânica de Jesus como descendente de Davi, portanto, o verdadeiro e sublime rei por excelência de Israel e do mundo. Mais tarde, durante os suplícios e zombarias dos soldados romanos, Jesus será identificado Rei, corado de espinhos e coberto com um manto vermelho, muito usado pela guarnição imperial. E ainda, o vermelho também aponta para a escarlata do sangue precioso de Jesus que seria derramado na cruz. Esse sangue carmesim, de origem real, seria aspergido misticamente sobre todos os pecadores de todas as épocas, a fim de purificar e comprar um povo que lhe seria especialmente dedicado. Assim, a festa litúrgica de Ramos reforça no coração dos crentes que somos súditos de um Rei invencível, glorioso que nem a morte, o pecado, as poderosas forças do mundo ou Satanás podem vencê-lo. Estamos, como crentes e como Igreja sob os seus cuidados, a sua proteção e a sua direção. Seguindo e servindo fiel e lealmente esse Rei-Pastor também nós nada haveremos de temer: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro. Mas, em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.35-39). “Hosana! Bendito é o que vem em nome do Senhor" (Mc 11.9).
Reverendo Luiz Fernando é Ministro Presbiteriano em Itapira
Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.