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Notícia
12/07/2022 | Luiz Santos: Cristão Assintomático

Os nossos dias como igreja são muito estranhos. Não estou certo se em outro tempo na história do cristianismo vivemos dias assim. A igreja experimentou muitos momentos de crise e até de rupturas com o Evangelho, mas nunca ela cresceu tanto numericamente em vários lugares do mundo ao mesmo tempo como hoje. Cresceu, mas nem sempre este crescimento veio acompanhado de grandes transformações. A igreja nunca foi tão amplamente presente nos quatro cantos do mundo, exceto naquele contexto dos ‘Povos Não Alcançados’. Entretanto, pesquisas apontam que pelo menos no ocidente, ser identificado como cristão não quer dizer muito, quando quer dizer alguma coisa. Muitos que se dizem pertencer à igreja, crer em Cristo, creem tão seletivamente no que essa fé importa, que é difícil dizer o quanto verdadeiramente creem. O George Barna Group, um conhecido instituto de pesquisas estatísticas dos Estados Unidos da América, apresenta a cada ano dados alarmantes sobre a igreja. São altíssimas as porcentagens dos que se dizem cristãos e frequentam a igreja não mais que duas vezes no ano. Tão alto quanto o número de cristãos que dizem não crer no nascimento virginal de Jesus Cristo, sua ressurreição, sua divindade e nos principais dogmas cristãos. O que se diz da igreja estadunidense se aplica, mutatis mutandis, também à igreja brasileira. Vivemos um momento delicado em que a igreja brasileira tem sido capitulada pelas forças ideológicas vigentes no país e o pior de tudo, se colocando ao serviço delas. Denominações inteiras estão espelhadas com um lado ou outro do espectro ideológico. Nesse sentido, os assim chamados ‘valores cristãos’ estão subjugando o Evangelho em si e assim, a igreja tem perdido a sua salinidade desviando de sua essencial missão enquanto se divide nessa polarização. Não bastasse isso, a igreja brasileira também anda capitulada pela cultura popular, pelo mercado, pelo desejo de celebrização, de ser socialmente aceita. Isso pode ser constatado nas músicas, na produção dos ambientes cúlticos que procuram conscientemente esconder, erradicar as ‘marcas’ ou ‘insígnias’ tradicionais do cristianismo. Sem falar na linguagem sem reverência de muitos pregadores e no conteúdo psicologizado, ‘coach’ da pregação e do ensino. Sucesso, vitória pessoal, prosperidade, felicidade, vida sentimental e amorosa são temas mais que recorrentes. O ‘cristão’ e suas demandas se tornaram o centro das atenções quando a comunidade se reúne. O ambiente e as atividades são planejados para serem sempre terapêuticos. Claro, que no meio disso tudo existem cristãos verdadeiros, sinceros, porém confusos. Essa confusão leva muitos a ficarem ‘assintomáticos’. Cristãos assintomáticos! São discípulos de Cristo que estão paralisados e até perplexos com o que veem na igreja, nos cultos e com o que ouvem nas pregações e nos discursos. Esses discípulos, não obstante a sua sinceridade, permanecem apáticos e sem saber como reagir a tudo o que acontece na vida dos crentes e da igreja. Cristãos assintomáticos são aqueles que perderam o entusiasmo e o compromisso com o seu testemunho pessoal. Andam passando desapercebidos em seu contexto de trabalho, de estudos e em suas relações sociais. Não se apresentam naquelas ocasiões que reclamam um testemunho, uma reação diferente do senso comum e do que é vulgar entre os homens. Também são assintomáticos em sua capacidade de dar um sinal concreto de seu contentamento com o agir de Deus em suas vidas. Se não murmuram e não reclamam, também não agradecem, não engrandecem, não louvam e nunca atribuem ao Senhor as suas conquistas, o ritmo abençoado das suas vidas e as providências que nunca faltam. Simplesmente ficam em silêncio e não ‘contaminam’ o outro com a sua satisfação no Eterno. Sem sintoma cristão algum é aquele que já não vibra e não se emociona em uma vida de devoção pessoal. É aquele que não se reconhece ‘dependente’ de uma vida de piedade com leituras diárias e proveitosas das Escrituras, com tempo de quantidade e qualidade para a meditação e oração. É o crente que se torna frio e apático na adoração pública e não se torna partícipe do sentimento do salmista: “Alegrei-me com os que me disseram: Vamos à casa do Senhor!” (Sl 122.1). E por fim, assintomático é aquele cristão insensível ao que Deus está fazendo e quer fazer no mundo por meio de sua igreja. Não é sensível com as dores do mundo, o sofrimento dos demais homens e mulheres que sofrem violência, fome e frio nesses dias de crescente miséria. Assintomático é o discípulo que não se interessa e não se compromete em missões, evangelização, e não sente desconforto e não se incomoda que Deus ainda não seja glorificado por um enorme contingente de nações, povos e línguas. O meu desejo sincero é que você se torne como Paulo: “Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada (sintomática) em nosso corpo” (2 Co 4.10).

Reverendo Luiz Fernando Dos Santos é Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil

Fonte: Luiz Santos

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