Capela de São Benedito e Sant´Ana resiste ao tempo e ganhará novo espaço

Andando pelos arredores de nossa cidade, em localidades como Eleutério, Barão de Ataliba Nogueira, Sapucaí e Morro do Graví, não é difícil encontrar resquícios da Revolução Constitucionalista de 1932, o maior movimento armado ocorrido no Brasil no século XX. O problema é que, apesar de alguns destes resquícios permanecem intactos, não é comum encontrar quem saiba contar este importante capítulo da nossa história. Este é o caso, por exemplo, da Capela de São Benedito e Santa´Ana, existente no Distrito de Eleutério, que teve papel fundamental durante o combate, mas que pouco a pouco caiu no esquecimento e hoje, quase ninguém sabe com exatidão sua origem, história e significado. Com o passar dos anos, perdeu-se a história dessa significativa “capelinha”. Não há em Eleutério quem informe sobre as suas origens. Mas ela está lá morro acima, vencendo o tempo e como que vigiando sua sucessora, mais jovem construída por volta de 1947.

Das poucas informações colhidas, sabe-se que a capela fica em terras da Fazenda Santana, que pertencia aos Vieira de Mattos. Nos portões de ferro na entrada da fazenda ainda se pode ler as iniciais "F" e "S" (Fazenda Santana).

O morador Gonçalo Molinari, 82 anos, comentou: “vim para Eleutério com quinze dias de vida apenas e estou aqui desde então. Vi construindo boa parte do que existe aqui hoje, e a nova igreja foi uma delas. Segundo que meu pai João Molinari nos contava, essa foi a primeira igreja da vi8la, onde tudo acontecei em termos de tradição religiosa. Durante o período do combate, serviu também como ponto estratégico de observação para os combatentes paulistas, que, assim como do morro da trincheira, passavam comunicados aos combatentes paulistas flanqueados no Morro do Gravi sobre o desembarque das tropas federalistas na estação ferroviária de Sapucaí (MG). Naquela época, quando os confrontos se acirraram, tivemos que fugir para uma fazenda próxima, devido aos tiroteios. As jovens tinham medo de andar pelas ruas sozinhas e muitas vezes, os soldados invadiam as casas para saquear ou até mesmo passar a noite”. Gonçalo contou ainda que sua esposa, Lindomar Garbela Molinari, 73, veio para cá logo que nasceu, e que inclusive foi batizada na Capela.

Outro personagem conhecido de Eleutério é José Mioto Torres, o popular "Paquinho". Comerciante da vila, possuindo há muito tempo um pequeno mercado por onde praticamente toda comunidade passa quase que diariamente, Paquinho também nos contou um pouco sobre as origens da Capela de Santana, já que é de uma geração mais nova. “Naquele tempo havia muita apreensão. Os combates mais violentos se deram nas proximidades da Fazenda Santa Joana. Muitos moradores tiveram que deixar suas casas e se abrigar em locais mais afastados e na casa de familiares longe do eixo da revolução”, explicou. Descontraído, contou um “causo”, que muito bem traduz o sentimento daquela época. “Reza a lenda que um mineiro andava por estas bandas quando foi abordado por um grupo de soldados paulistas perguntando sua origem. Ao se dizer mineiro, teria levado uma grande surra. Passado algum tempo, o mesmo cidadão estava fazendo um dos caminhos, quando novamente foi abordado por soldados, que novamente questionaram seu estado natal. Sou paulista, teria dito o mineiro. Mas desta vez, os soldados eram mineiros e conta a história que teria apanhado novamente. Passado algum tempo, pela terceira vez o civil encontraria um grupo de soldados e para se livrar de nova surra, teria subido em uma árvore. Os soldados exigiam que ele descesse e ao perguntar se era paulista e mineiro, ele teria dito: não está vendo que sou uma fruta?”, relembra com entusiasmo.

 
CONSTRUCAO DA CAPELA

De acordo com o site ”freinobreza”, do saudoso Sérgio de Freitas, uma única pista sobre as verdadeiras origens da capelinha foi fornecida pelo Sr. José Desotti, nascido em Eleutério. Segundo ele, a capelinha de São Benedito já existia quando ele era criança e que é muito bem provável e sem muitas dúvidas que ela tenha sido construída pelo "avô do Quinzote". (sic). Dando buscas sobre a genealogia do "Seu Quinzote" - Joaquim Francisco de Assis Vieira Filho, encontramos seu pai o "Nhô Quim"- Joaquim Francisco de Assis Vieira. Felizmente  chegamos  ao seu avô o Sr. Francisco de Assis Vieira Mattos, que conforme descobrimos era  senhor absoluto das terras onde hoje está a Vila de Eleutério. Aprofundando nessas pesquisas, descobrimos que o Sr. Francisco de Assis Viera Mattos, avô do "Quinzote", foi o fundador da Fazenda Eleutério, hoje Distrito de Eleutério. 

 
         
Visto isso, podemos agora com alguma margem de segurança dizer  que a referida Capelinha de São Benedito foi fundada pelo próprio fundador de Eleutério - Francisco de Assis Vieira de Mattos e a data provável seria entre 1837 e 1847. A nova Igreja começou a ser construída por volta de 1937, conforme informações fornecidas pelo quase centenário "seu" Augusto Ambrósio o popular (Nenê Ambrósio). É bem provável que 1937 tenha sido uma data significativa para que se iniciasse a construção da nova Igreja, já que marcaria o seu centenário (1837-1937). Conjecturas a parte, o raciocínio pelo menos é lógico e válido. Iremos aguardar novas luzes que esclareçam essas dúvidas. Por enquanto ficamos com o nome de seu fundador - Francisco de Assis Vieira Mattos - e com a data de 1837 para a sua fundação.

Recentemente, a manutenção da Capela de São Benedito e Sant´Ana ficou sob a responsabilidade dos proprietários da centenária Fazenda Santana, ainda existente em Eleutério. Segundo informações colhidas no local, um loteamento será construído naquelas terras, mas a área da Capela já foi assegurada, inclusive consta no projeto a construção de uma pracinha em homenagem a este capítulo da nossa história que foi a Revolução Constitucionalista de 1932.