O aposentado Benedito Rafael da Costa, de 67 anos, é uma daquelas pessoas cujas atividades do dia-a-dia procura encarar sempre com otimismo. Ainda que isto implique em enfren­tar dificuldades adicionais que uma perna amputada acarreta a uma pessoa com sua idade.

Morador do Jardim Itamacará, ele precisou amputar a perna esquer­da em 2011 depois de um problema agravado pela diabetes. Como desgraça pouca é bobagem, pouco mais de um ano depois, perdeu a esposa Carmen. Enganou-se quem imaginou que os revezes iriam abatê­-lo. Chegou a dispensar uma empregada porque implicou que ela não fazia o serviço do jeito que ele queria. “Pode ir em casa e se achar qualquer coisa fora do lugar ou mal cuidada me chame de mentiroso”, desafia.

Mas o mais inusitado, segundo ele, ocorreu neste começo de ano quando viu pelas ruas a aposentada Nair Biccigo e sua famosa bicicleta elétrica adaptada. “Conversei com ela e tirei informações de onde ela comprou a dela e fui atrás de uma para mim”, relatou.

Visitou a fábrica, que segundo ele fica em Artur Nogueira. Lá conversou com o proprietário sobre mu­danças que desejaria com relação àquela de dona Nair. “Moro num lugar onde tem morro. Por isso dei a idéia de se colocar uma espécie de catraca reforçada que funciona como uma reduzi­da de caminhão.Ficou uma beleza”, comentou. Além disso colocou um supor­te para abrir um guarda­-chuvas, que nestes dias tórridos tem funcionado como guarda- sol. Na parte traseira, um cercadinho para carregar sua cadeira de rodas. “Não me aper­reio de forma nenhuma no trânsito. Já fui motorista e aprendiz que a gente tem que conduzir o trânsito e não o trânsito conduzir a gente”, respondeu ao ser questionado se não tinha medo de ser atropelado por algum incauto.

Feliz com seu brinque­dinho, disse que investiu economias estimadas em torno de R$ 2.800 nele. Acha que outras pessoas também poderão seguir seu exemplo e é claro, de dona Nair. “Eu andava de ônibus circular. Mas na maioria das vezes o sistema elevador do ônibus não funcionava e isso causava desconforto. Por isso decidi ter uma forma de me locomover mais prática”, admite.

Costa tem um filho que atua como Policial Militar em São Paulo. Disse que já contou a novidade para ele. Impressionantemente de bem com a vida, tem na ponta da língua resposta para tudo. Os fios grisa­lhos do cabelo denunciam sabedoria acumulada ao longo de muitos anos e que faz questão de usar para uma boa conversa, não se esquecendo de convidar a reportagem para uma visita à sua casa. “Será um prazer recebê- lo”, encerrou.