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Itapira, 04 de Maio de 2025
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08/09/2012 | Reinventar o 07 de setembro, um desafio nas salas de aula

A celebração no dia de ontem de mais uma passagem do dia 07 de Setembro, o Dia da Pátria, acabou ocorrendo de forma apagada do ponto de vista prático, aliás, como tem sido cada vez mais comum a cada ano. As pessoas que hoje em dia estão caminhando para a casa dos 40 anos ainda se lembram que em qualquer escola a data era motivo de intensos preparativos. Não raramente havia desfile nas ruas, mais glamorosos do que aquele realizado por ocasião do aniversário da cidade.

A mudança de época e de regime de governo (naquele tempo ainda estávamos sob a ditadura militar) são apontados como os fatores que mudaram radicalmente este quadro. Nas escolas, hoje em dia, os professores de história se dão ao trabalho para oferecer ao tema uma outra conotação menos nacionalista, mais prática no sentido da palavra. “A gente observa que de uma forma geral as pessoas não dão mais valor aos símbolos pátrios e o sete de setembro acaba dentro deste contexto. Como não dá para nadar contra a correnteza, a gente procura estimular a análise crítica sobre o período da Independência”, comentou o professor Diego Danilo Rizzi, de 26 anos, em seu primeiro ano como professor da Escola Elvira Santos de Oliveira (ESO). Professor de 5ªs e 6ªs séries, Rizzi compactua com a tese de que o assunto merece uma análise mais crítica e objetiva.

A colega Lucia Helena Beghini Zanquetta já com muitos anos de janela à frente, afirma que procura aliar os aspectos relacionados aos acontecimentos históricos que envolvem o tema com uma visão mais tradicional. “Acho importante resgatar os fatos históricos e mostrar a importância da construção dos valores que criam uma verdadeira identidade nacional”, avalia. Lúcia leciona para estudantes do ensino fundamental e médio também na ESO.

O professor Hamed Mauch Bittar tem vários familiares aqui em Itapira e leciona em colégios tradicionais em Campinas de onde é natural.  Ele atesta que a falta de entusiasmo sobre o sete de setembro acomete tanto alunos de maior, quanto de menor poder aquisitivo, mas que não considera os estudantes alienados por causa disso. “Percebo que realmente não existe muito interesse por fatos históricos que estão um pouco distantes de sua realidade, mas não posso dizer que são alunos alienados, pois demonstram elevado senso crítico e nas discussões em sala de aula, apresentam reflexões como: lutar para baixar as passagens de ônibus em Campinas, as desigualdades e acontecimentos atuais, como por exemplo, as cotas nas universidades, fazem parte das discussões. Simplificando, são jovens que se preocupam sim com a sociedade onde vivem, talvez seja uma espécie de patriotismo, ao menos na minha singela opinião”, externou.


O sete de setembro do ponto de vista da América Latina

Hamed Mauch Bittar (*)

Solicitado que fui para apresentar uma visão a respeito da perda da identidade cívica que supostamente o 07 de setembro vem apresentando geração após geração,  para aprofundar-nos neste assunto se faz  necessário fazer um breve retrocesso histórico e entender a conjuntura nacional e internacional pelo qual passava nosso país. Vale lembrar que nosso continente estava passando por um processo de independência geral, devido a falência do processo colonial espanhol. Argentina, Chile e Venezuela estavam em processo de libertação. Nesse contexto não podemos esquecer do grande Líder Simón Bolívar que vai encabeçar lutas com grande êxito, além de ter um grande sonho e ao mesmo tempo uma decepção muito grande por nossos continentes não serem unidos e formarmos uma grande força contra o Imperialismo europeu. Segundo as falas do venezuelano, os interesses opostos bloquearam este sonho.

Bolívar se referia as elites crioulas que dominavam alguns negócios nas colônias e não via vantagem na união, portanto nossos vizinhos se espalharam em muitos outros países que hoje conhecemos. Não podemos, enquanto irmãos de continente, deixar de fazer uma rápida e singela analise econômica pelo mesmo que mesmo após sua independência continuou até hoje com um processo de exploração. São livres, mas ainda escravos do capital estrangeiro nas transnacionais que sugam o trabalhador latino americano nas formas mais variadas possíveis, levando o continente a perpetuar o seu histórico de exploração desde da época de Cortez, que praticamente chacinou os índios Astecas, Incas e Maias, tudo para saciar a sua sede de ouro e principalmente prata nas minas de Potosi, na Bolívia, onde até hoje observamos um trauma da população que vivia em pura simplicidade e harmonia com sua cultura.

Caso o leitor tenha maiores interesses no assunto, há um excelente livro do renomado escritor Eduardo Galeano, cujo o título da obra é: As veias abertas da América Latina. Vale a pena conferir. Bom, agora podemos falar do caso do Brasil.
Vamos lembrar que os processos de independência descritos acima vão rebater no Brasil, nosso país não vai se fragmentar como nossos vizinhos por inúmeras questões, dentre elas vou destacar duas: a presença da coroa portuguesa na região e o interesse das elites de manter uma unidade, política, pensamento bem diferente das elites crioulas dos outros países da América.

O resto todos conhecem, as elites brasileira estavam insatisfeitas e o clima começou se exaltar, nosso Imperador estava voltando de Santos depois de comer uma moqueca daquelas e visitar sua amante a Marquesa de Santos. Tivemos a declaração de independência representada por um glamoroso quadro de Pedro Américo que, se prestarmos atenção, veremos um observador trajando uma roupa bem simplória com um olhar espantado e sem entender o que estava acontecendo naquele momento. Tivemos que pagar uma soma enorme em indenização a Portugal e, para piorar, fizemos um empréstimo da Inglaterra. Resultado? Ficamos livres de Portugal e totalmente dependentes da Inglaterra. Se me permitem uma reflexão pessoal, eu realmente não sei o que foi pior.

Finalmente falaremos de patriotismo. Em minha opinião, o patriotismo na medida certa é muito importante para termos uma identidade e sentimento de pertencimento. Se for a uma medida exagerada, brotará uma loucura como o Nazismo na Alemanha, Sionismo entre os Judeus, e porque não lembrar o excesso de patriotismo Norte Americano que leva muitos de seus jovens a guerras desnecessárias, como a do Vietnã que ceifaram a vida de 65 mil jovens.

De fato existe um sentimento esvaziado de patriotismo entre nossos jovens que só lembram de que são brasileiros apenas em competições esportivas, além de se iludirem com o consumismo e o materialismo, não dando espaço para as reflexões sobre os processos históricos ao qual eles mesmos estão inseridos. Mas, como a história tem suas mil faces, não podemos ocultar certas verdades ou outras visões, afinal, o que mudou para o povo após a independência? A escravidão permaneceu por mais seis décadas, nos tornamos um dos países mais corruptos na questão política, e, diga–se de passagem, ainda persistimos com este problema atualmente. Hoje somos um país que, segundo a FAO (Organização de Comida e Agricultura), ainda temos 9 milhões de irmãos brasileiros que permanecem com fome todos os dias, sem contar que somos um dos países mais desiguais do Mundo, não posso deixar de alertar que ficamos em 88° lugar em educação em um total de 127 países segundo o ultimo aferimento da UNESCO. Pensando bem, precisamos melhorar as desigualdades nos unindo socialmente, pois este é o verdadeiro sentimento que leva ao patriotismo mais digno. Pensar coletivamente e se afastar do individualismo com certeza irá reacender a chama do patriotismo.

(*) Hamed Mauch Bittar é professor de História, de família itapirense e radicado atualmente em Campinas

Fonte: Da Redação do PCI

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